Resumo-assunto do canto 4 do URAGUAI
Resumo assunto corresponde à
apresentação da fábula (as sequências, ou partes), apresentação cuidada, com
citação, ainda que rápida, de trechos que se considera importante.
O Uraguai é um poema épico dividido em cinco cantos
dispostos em uma linguagem bastante acessível, composto em versos decassílabos
brancos, ou seja, sem rimas. Esta obra escrita por Basílio da Gama retrata a
guerra travada por portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas pela
conquista da Colônia de Sete Povos das Missões, na região do Uraguai. No canto
I o general do exército português Gomes Andrade e o chefe das tropas espanholas
Catâneo se dirigem, juntamente com seus soldados, até o local do conflito.
Chegando lá, encontram dois índios que vinham em missão de paz, para uma
negociação, o chefe dos índios Cacambo e o índio Sepé. A tentativa de uma
negociação de paz acaba por falhar, e então, o combate começa.
O canto II traz à baila a narrativa da batalha travada
entre índios e conquistadores brancos, cabendo a vitória aos portugueses e
espanhóis. No canto III surge a sombra de um chefe indígena (Sepé),
desaparecido em combate, que aconselha Cacambo a incendiar o acampamento dos
brancos e a fugir. O cacique acata o conselho e depois de voltar a sua aldeia
encontra o jesuíta Balda que manda prendê-lo e envenena-lo. Paralelamente, a
feiticeira Tanajura faz Lindóia, mulher de Cacambo, ter visões.
O canto IV trata da morte da índia Lindóia, que era
casada com Cacambo. Os padres, que são vistos com muita negatividade na epopeia
de Basílio da Gama, armam a morte do marido de Lindóia para que ela pudesse vir
a se casar com o filho do padre Balda, o Baldetta. Lindóia prefere morrer a ter
que se casar com um dos agentes do assassinato de seu marido.
Após salvar as tropas do incêndio, Andrade marcha em
direção aos Sete Povos das Missões. Ele sobe em uma montanha muito alta, e de
lá contempla a beleza da região. Enquanto isso, padre Balda dá início aos
festejos do casamento de Baldetta com Lindóia, tendo início com um desfile
militar. Primeiro vem Cobé, tendo o rosto tingido de vermelho e, após ele vem
Pindó, que substituiu Sepé. Na sequência vem Caitutu, o irmão de Lindóia e, em
seguida, Baldetta, liderando a esquadra que era de Cacambo. Podemos observar
esta passagem com riqueza de detalhes no seguinte trecho:
Co’a
chata frente de urucu tingida,
Vinha
o índio Cobé disforme e feio,
Que
sustenta nas mãos pesada maça,
Com
que abate no campo os inimigos
Como
abate a seara o rijo vento.
Traz
consigo os salvages da montanha,
Que
comem os seus mortos; nem consentem
Que
jamais lhes esconda a dura terra
No
seu avaro seio o frio corpo
Do
doce pai, ou suspirado amigo.
Foi
o segundo, que de si fez mostra,
O
mancebo Pindó, que sucedera
A
Sepé no lugar: inda em memória
Do
não vingado irmão, que tanto amava,
Leva
negros penachos na cabeça.
São
vermelhas as outras penas todas,
Cor
que Sepé usara sempre em guerra.
Vão
com eles os seus tapes, que se afrontam
É
que têm por injúria morrer velhos.
Segue-se
Caitutu, de régio sangue
E
de Lindóia irmão. Não muito fortes
São
os que ele conduz; mas são tão destros
No
exercício da frecha que arrebatam
Ao
verde papagaio o curvo bico,
Voando
pelo ar. Nem dos seus tiros
O
peixe prateado está seguro
No
fundo do ribeiro. Vinham logo
Alegres
guaranis de amável gesto.
Esta
foi de Cacambo a esquadra antiga.
Penas
da cor do céu trazem vestidas,
Com
cintas amarelas: e Baldetta
Desvanecido
a bela esquadra ordena
No
seu Jardim: até o meio a lança
Pintada
de vermelho, e a testa e o corpo
Todo
coberto de amarelas plumas.
Pendente
a rica espada de Cacambo,
E
pelos peitos ao través lançada
Por
cima do ombro esquerdo a verde faixa
De
donde ao lado oposto a aljava desce.
Num
cavalo da cor da noite escura
Entrou
na grande praça derradeiro
Tatu-Guaçu
feroz, e vem guiando
Tropel
confuso de cavaleria,
Que
combate desordenadamente.
Trazem
lanças nas mãos, e lhes defendem
Peles
de monstros os seguros peitos.
Revia-se
em Baldetta o santo padre;
E
fazendo profunda reverência,
Fora
da grande porta, recebia
O
esperado Tedeu ativo e pronto,
A
quem acompanhava vagaroso
Com
as chaves no cinto o Irmão Patusca,
De pesada, enormíssima barriga
Para
dar início a festa de casamento faltava apenas Lindóia, que em meio a sua
tristeza, sem poder cumprir o luto pelo marido e, por não aceitar se casar com
Baldetta, penetra na parte mais remota do antigo bosque. Impacientes com a
demora de Lindóia, muitos saem a sua procura e Tanajura diz que ela havia
entrado no bosque. Caitutu vai a sua procura e a encontra entre jasmins e
rosas, junto a uma pedra que lhe servia de lápide e um fúnebre cipreste que lhe
cobria com uma sombra melancólica. Caitutu viu que enrolada ao corpo de Lindóia
havia uma serpente venenosa. Sem saber o que fazer, com medo de despertar a
fera, ele vacila três vezes em disparar uma flecha. Enchendo-se de coragem,
Caitutu consegue acertar a testa da serpente. No entanto, já era tarde demais,
Lindóia já havia sido picada. Caitutu ao tomar a irmã nos braços percebe o
quanto era bela a morte no rosto de Lindóia.
Leva
nos braços a infeliz Lindóia
O
desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece,
com que dor! no frio rosto
Os
sinais do veneno, e vê ferido
Pelo
dente sutil o brando peito.
Os
olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios
de morte; e muda aquela língua
Que
ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou
a larga história de seus males.
Nos
olhos Caitutu não sofre o pranto,
E
rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo
na testa da fronteira gruta
De
sua mão já trêmula gravado
O
alheio crime e a voluntária morte.
E
por todas as partes repetido
O
suspirado nome de Cacambo.
Inda
conserva o pálido semblante
Um
não sei quê de magoado e triste,
Que
os corações mais duros enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!
Quando
padre Balda descobre que Lindóia havia se suicidado, proíbe que ela seja velada
e sepultada, não permite sequer que se chore por ela e, manda que deixem seu
corpo exposto às feras. Em seguida, Balda busca se vingar de Tanajura,
condenando a mesma a morte. Neste mesmo momento, entra na Missão um índio
alarmando a chegada dos inimigos. Tedeu sugere que as tropas se reúnam em outra
cidade dos Sete Povos das Missões e Balda, acatando a sugestão, ordena a
retirada e manda que coloquem fogo em tudo, a começar pela choupana de
Tanajura, e com ela amarrada dentro.
Diz
o ativo Tedeu: melhor conselho
É
ajuntar as tropas no outro povo:
Perca-se
o mais, salvemos a cabeça.
Embora
seja assim: faça-se em tudo
A
vontade do céu; mas entretanto
Vejam
os contumazes inimigos
Que
não têm que esperar de nós despojos,
Falte-lhe
a melhor parte ao seu triunfo.
Assim
discorre Balda; e entanto ordena
Que
todas as esquadras se retirem,
Dando
as casas primeiro ao fogo, e o templo.
Parte,
deixando atada a triste velha
Dentro
de uma choupana, e vingativo
Quis que por ela começasse o incêndio.
Quando
as tropas chegam a Missão, percebem que já era tarde. Não restava nada em pé,
tudo estava destruído, e Andrade, indignado, chora:
Em
pedaços no chão. Voltava os olhos
Turbado
o General: aquela vista
Lhe encheu o peito de ira, e os olhos de água.
Andrade
juntamente com sua tropa entra no grande templo e veem destruídas as imagens
sagradas e na abóbada contemplam uma grande pintura. O narrador termina o canto
invocando o “gênio” da inculta da América para inspirá-los a continuar a
história.
Gênio
da inculta América, que inspiras
A
meu peito o furor que me transporta,
Tu
me levanta nas seguras asas.
Serás
em paga ouvido no meu canto.
E
te prometo que pendente um dia
Adorne a minha lira os teus altares.
No
canto V há uma descrição do templo, perseguição aos índios, a prisão de Balda.
Neste canto, o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas,
descrevendo-os como os responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas
luso-espanholas. Há em toda obra, um espírito anti-jesuítico, ainda que Basílio
da Gama tenha sido educado entre os jesuítas. Há ainda neste canto, a homenagem
ao general Gomes Freire de Andrade, que protegia e respeitava os índios
sobreviventes.